quinta-feira, 4 de agosto de 2011

ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO: A CONSTRUÇÃO DA LEITURA E DA ESCRITA (DE MUNDO) E O DEFICIENTE MENTAL



Alfabetizar letrando é o caminho para o ensino da leitura e da escrita, tanto para alunos sem deficiência quanto para alunos com deficiência mental. Ensinar a ler o mundo, a realidade precede a aprendizagem, e é tão importante quanto, da leitura e da escrita formal.

Pensar que a Pessoa com Deficiência Mental é incapaz de aprender a ler e a escrever é muito mais que um engano. É negar ao deficiente a oportunidade de se inserir num mundo letrado, de conhecer e poder fazer parte deste contexto. Além disso, é isentar-se da responsabilidade de ensinar o processo de leitura e de escrita, o que é muito cômodo, e  também é acreditar que todos aprendem da mesma forma, o que não é verdade.

Para a Pessoa com Deficiência Mental, os processos de alfabetização, de construção da leitura e da escrita percorrem processos semelhantes àqueles identificados em pessoas sem deficiência intelectual. Assim, no decorrer do processo de alfabetização e letramento verificam-se os mesmos níveis de construção da leitura e da escrita para alunos com e sem deficiência.

Mas para isso, é importante conhecer os diferentes métodos e metodologias que podem ajudar o professor  a compreender o seu aluno e  levá-lo a aprender a aprender, a ser, a conviver e a conhecer sobre os diferentes conhecimentos cultural e historicamente construídos pela humanidade. Conhecer para optar por métodos e metodologias que respeitem as diferenças, a diversidade, e as várias concepções e formas de construir conhecimentos.

O que é pertinente ressaltar, tanto na alfabetização de Deficientes Mentais quanto dos alunos sem deficiência é a forma, a metodologia utilizada para se conquistar os progressos e avanços na leitura e na escrita. No caso dos alunos que apresentam a dificuldade ou limitação intelectual, é fundamental se propor desafios e saber o momento em que a intervenção do professor deve acontecer para promover avanços. Neste ponto, faz-se necessário lembrar que os métodos tradicionais não atendem esta demanda por trabalharem basicamente com a memorização e não com a compreensão construção de conceitos.

A escola precisa fazer cumprir seu papel de ensinar e ir em busca de conhecer seus alunos e criar condições de aprendizagens. O ponto de partida para se ensinar, sem diferenciar o ensino para cada aluno, ou grupo de alunos, é entender que a diferenciação é feita pelo próprio aluno, ao aprender, e não pelo professor, ao ensinar. O sucesso da aprendizagem está em explorar talentos, atualizar possibilidades, desenvolver predisposições naturais de cada aluno. As dificuldades e limitações precisam ser reconhecidas, mas não conduzem nem restringem o processo de ensino, como a escola comum e, em muitos casos, também a escola especial, deixa que aconteça.

Parece redundante afirmar que a aprendizagem é um processo complexo e  individual. É por isso que não existem metodologias específicas para o deficiente mental, pois não existem parâmetros ou padrões que dizem de sua aprendizagem.

O aluno com deficiência mental pode ou não aprender a ler e escrever. É necessário oportunizar esta aprendizagem. É preciso considerar a diversidade no processo de alfabetização. É preciso aprender a ver além das aparências imediatas, que são, muitas vezes, ofuscantes e enganosas, e tomar a dificuldade pelo avesso, desenvolvendo um olhar que traduza uma compreensão mais atenta dos diferentes modos de aprender das crianças e, principalmente, observando mais de perto as que são consideradas, como aquelas que “não acompanham” a turma e “tomando” pela mão durante a produção de conhecimentos.

E é aí que entra a importância do ser letrado. Quando não for possível aprender a ler e escrever as letras, palavras e frases - alfabetização, o que a escola pode e deve fazer por esta pessoa/ aluno é no mínimo o letramento. O conhecimento de mundo, o desenvolvimento da autonomia e da independência precedem a escrita e a leitura formalizada pela instituição escolar.

Há casos em que embora se oportunize situações de alfabetização para a Pessoa com Deficiência Mental, isso não acontece. Então, ser e estar no mundo com independência, com cidadania, é fundamental a esta pessoa para que possa participar ativamente com os conhecimentos adquiridos de outras formas que não escrito.

Letrar é tornar a pessoa parte deste contexto letrado, em que, mesmo não lendo, a Pessoa com Deficiência Mental, saiba o que está acontecendo ao seu redor, e, com criticidade e responsabilidade, possa fazer parte e contribuir para mudar/melhorar a realidade, posicionando-se ativa e conscientemente.

Porém, isso não significa deixar de oportunizar a construção da leitura e da escrita convencional, mas, ao ter este conhecimento dos processos e possibilidades de aprendizagem da Pessoa com Deficiência Mental oportunizar formas e alternativas para que isso não seja um fator de exclusão social, pelo contrário, que seja uma diferença na forma de aprender sobre o mundo.

Há diferentes formas de ler e escrever cabe a escola Comum e Especial aprender e ensinar nas diferentes linguagens e formas de ser e de estar no mundo, sem discriminar, sem diferenciar, sem excluir ou desconsiderar a diferença, mas aprendendo na diversidade, aprendendo com as diferenças.

É importante ser alfabetizado, mas mais importante é ser sujeito e autor da própria história e da sociedade, assim sendo, é fundamental ser letrado.

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